Mensagem a um velho amigo

Boa noite, querido amigo. 

Mais uma vez me sentei aqui para repetir o ritual de escrever que estive pensando em ti nos últimos tempos novamente. Não especificamente apenas nestes dias, mas confesso que o pensamento se tornou mais constante nas últimas semanas. 

Tenho observado esse padrão algumas vezes. 

Da última vez que te escrevi, estava próximo de uma transição, e desta vez me encontro novamente próximo de uma, não tão importante quanto a anterior, mas ainda uma transição.

Acho que, de certa maneira, quando a gente muda alguma coisa na nossa vida a nossa mente começa a buscar por aquilo que não pode mudar, que não deve mudar, porque faz parte estrutural da nossa personalidade. E poucas coisas foram tão marcantes nos primeiros anos de Santa Maria quanto nossa amizade, poucas coisas me ajudaram mais a entender como são as verdadeiras relações entre amigos do que conviver contigo. 

E nem sempre nestes momentos em que procuramos fazer esse resgate temos muito a dizer, por exceção da expressão da saudade acumulada e do apreço sentido. 

Uma pena.

Queria expressar nas minúcias as histórias pelas quais passamos por aqui, os detalhes delicados da paternidade, dividir as angústias da responsabilidade da minha profissão, ouvir as tuas ideias incríveis sobre a educação, e partilhar da visão singular que tu tem do mundo que enriquece a maneira como eu enxergo a minha vida. 

Mas tudo isso estaria fora de contexto, pareceria um arroubo próximo de uma ruptura sutil da sanidade mental.

Poderia soar como um pedido de ajuda emitido dentro de um contexto específico, quando na verdade não existe contexto específico nenhum; e não gostaria de fazer soar um alarme deste porte quando o contexto que causa a angústia é o mesmo contexto da vida que ocorre a todos nós, e para o qual não existe notícia de que alarme algum já tenha resultado em resgate a quaisquer emitente. 

Para muitos, a fuga desse contexto reside numa resignação triste e digna de um velho rabugento, que diz que "a vida é assim". Que as coisas vêm e vão. 

Pois bem, espero que a vida não seja tão "assim" por muito tempo. 

Espero que consigamos nos ver em breve, e que, pelo menos em algum vislumbre, a gente consiga desfrutar da conexão de ideias de outrora. 

Um grande abraço, querido amigo.

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