O rio em nós
Um homem nunca se banha no mesmo rio duas vezes, pois na segunda vez nem o homem e nem o rio serão os mesmos.
Isso é verdadeiro, mas pode não ser doloroso viver isso como parece ser num primeiro momento.
Porque, veja bem querida, a impressão que temos, ou que pelo menos eu tive, na primeira vez que li essa frase, é de perda, de algo que escapa, e que se perde no tempo e que não volta nunca mais. De tudo ser irrecuperável.
Mas e se todo o banho fosse o mesmo, será que faria sentido esse banho?
Sempre o mesmo banho, na mesma correnteza do rio, na mesma posição, a mesma duração, sentido a água passar exatamente na mesma altura e causando a mesma sensação, com o mesmo cheiro, com a mesma temperatura, a mesma pedra no fundo do rio machucando o pé exatamente na mesma posição, saindo do rio para pisar exatamente na mesma areia, sem nada novo, diariamente, indefinidamente.
Logo esse banho não seria mais prazeroso, passaria a tedioso e, por fim, odioso, talvez abandonado pela ausência de sensação que deveria dar e não mais proporciona, talvez repetido diariamente apenas por convenção ou preguiça da mudança.
Mas é exatamente ser diferente que faz com que o processo seja interessante.
Todos os dias é uma nova descoberta, a relação de sensações a serem sentidas parece infinita.
É claro que algumas sensações poderão se perder, e é claro que aquele banho nostálgico no fim da tarde com a temperatura perfeita no pôr do sol pode não se repetir por um longo tempo, e ficar só na lembrança. Mas contando que o homem volte sempre a se banhar sempre e todos os dias até o infinito, o que está por vir sempre será maior do que o que já foi.
Eu e você já não somos mais os mesmos. Talvez a totalidade das moléculas que compunham o nosso corpo quando nos conhecemos já tenha sido substituída, talvez (e tomara que) a maior parte de nossas ideias também. Nossos banhos hoje são diferentes, e que bom! Porque eu ainda quero descobrir quais são todas as maneira de me banhar contigo, e em ti, pela eternidade sem fim.
Eu escolho me banhar contigo, e em ti, todos os dias, e por todos os dias, até o infinito. E você?
Sempre te amo pra sempre.
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Olhares estrábicos